CONFISSÃO DE PAI

CONFISSÃO DE PAI

Geraldo Generoso
Contam-se aos bilhões o número de Meus filhos,
Cada qual ao seu modo e do seu jeito;
Porque por Mim criado é perfeito,
Por que perfeitos como amor Eu fi-los.

Na casa que lhes por aprendizes,
Aptos os fiz a serem criadores;
Meu único intento é que fossem felizes,
Comigo partilhando os esplendores.

Não lhes bastaram os dotes recebidos:
A mais do que Eu esperava, foram além.
Ainda que no Éden inseridos,
Não contentes buscaram maior Bem.

O Homem não se fez em parasita
Nem limitou suas curiosidades:
Desceu da árvore, fez a palafita,
Arou os campos e plantou cidades.

Costurou vestes; ao fogo associou-se
E com o fogão cozeu melhor comida
Em sábia escala entre o sal e o doce
E escolheu fazer a própria vida.

Desafiou a própria Natureza,
Abriu estrada e construiu pontes
E, em tudo, como Eu, impôs beleza
E fez recuar longínquos horizontes.

Optei não lhes criar de asas providos
Mas voam em bando sobre céus e mares,
Deixam a Terra e partem, atrevidos,
Para outros mundos e outros lugares.

Inumeráveis são suas façanhas,
Que edificam em construção civil:
Soterram vales, removem montanhas,
Tapam abismos e represam o rio.

Sou-lhes um Pai de ombro sempre amigo
E, nessa condição amo-os demais;
Mas, se os convido a voltar comigo,
Eles, na Terra, querem ficar mais.

Admiro sua garra e ousadia,
O seu arrojo no  labor inquieto
Que se faz em progresso a cada dia
E alegra o coração deste Arquiteto.


(Poema dedicado ao querido amigo, Geraldo Machado, em 10/01/2011)

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