REENGENHARIA DO CASAMENTO

Geraldo Generoso


No palco mais estreito do seio doméstico é que as pessoas exercitam o casamento, num script de êxito, alternando-se em êxitos e fracassos. Casamento significa união. Ela só se processa, terminantemente, quando existe harmonia. Fora disso só resta o auto-engano de uma convivência frustrada e, porque mentirosa, apresenta-se à sociedade sob o disfarce imperdoável da hipocrisia.


Em parte, mas grande parte mesmo, a harmonia de um casal pode ser construída. Como alicerce de um relacionamento, se a afinidade, atração e simpatia não se mostrar sólida e sem o diferencial de uma identificação entre os pares, muito trabalho terá o terapeuta matrimonial. Precisará de tempo para corrigir os desacertos, por mais hábil que possa se considerar.

E é importante o prezado leitor manter em conta que me refiro a esta condição para as pessoas normais. Que, aliás, infelizmente a sinceridade me obriga dizê-lo, não se constitue em maioria na face do globo terrestre. Ao ferir este tema, a ninguém iludo sobre os obstáculos inevitáveis que se antepõem ao convívio harmonioso entre um homem e uma mulher.

A identificação requerida entre duas pessoas, até de forma genérica, não se constitue exatamente em se gostar das mesmas coisas ou ter os mesmos hábitos de vida. Para essa identificação mencionada, a rigor, não há como explicar os motivos, embora se possa avaliar uma série de fatores que para isso concorre.

Há, pois, mistério que ninguém poderá, em forma explicável, dizer porque gosta de fulano ou fulana. Ocorre que, na forma específica, entre homem X mulher pode nascer uma atração química, nada mais do que resultante do aspecto físico. É quando se diz que há uma “atração de pele”. É uma sensação deliciosa, até válida como ponto de partida para um relacionamento. Mas sem nenhuma garantia de sucesso. Lembre-se: é apenas a partida no carro do relacionamento. Um mecânico antigo diria ser o motor de arranque, com muito sucesso substituído pela injeção eletrônica. Mas a figura de linguagem é válida.

Atração pelo prazer
Quando se quer alguém para o prazer, se quer apenas por uns poucos momentos. Ainda que a ilusão de gozo queira se prolongar eternamente, ela só pode se prolongar em outros departamentos da vida.

E para os outros momentos - sejam os dias sonsos da rotina, sejam grandes problemas de toda ordem que a vida reserva, paga-se um preço muito alto por tudo o mais. É condenável a atração pelo sexo oposto, sob o aspecto físico? De forma alguma. Essa química é igualmente milagrosa, como os grandes e pequenos milagres que a vida apresenta.

Ocorre que essa atração, ainda que maravilhosa, encontra-se no seu nível primário. Aliás, há que considerá-la indispensável, como ponto de partida para uma motivação para um relacionamento mais concreto e amiúde. Contudo, deve-se ter em conta que a atração sexual se traduz apenas no “motor de arranque” para se firmar um pacto de convivência com alguém.

Uma só carne

Que fique claro aos nossos que nos lerem: ao recorrermos a termos usuais das religiões, como todos aqueles que partilham desta série de ensinamentos , não se faz apologia ou propagação de dogmas, quaisquer que eles sejam.

Por outro lado, não há como negar certas expressões felizes encontradas nos textos sagrados, como a Bíblia judaico-cristã, por exemplo nesta passagem cheia de poesia: "E disse Adão: Esta é agora osso dos meus ossos, e carne da minha carne; esta será chamada mulher, porquanto do homem foi tomada." (Gênesis 2 : 23)

Esta observação é mais profunda do que possa parecer. Representa a fórmula da mais perfeita identificação, firmada entre um homem e uma mulher. Se é a sua carne, tem que viver do mesmo ar, do mesmo alimento, das mesmas aspirações e, sempre e sempre, cada qual a zelar pelo bem um do outro. Isto significa uma auto-estima ampliada na pessoa de quem partilha o convívio de forma permanente.

Problemas será o que menos faltará entre os ingredientes domésticos. Face a contratempos – inevitáveis – há a cada um dos envolvidos num relacionamento um desafio que se repete com frequência: é o de separar essa questão sem cometer o pecado capital de transferir a responsabilidade a outra pessoa. Todos – ou a maioria - têm, até por um instinto de defesa psicológica explicável, transferir, para as circunstâncias e os circunstantes, os problemas que enfrentam.

Erra-se espetacularmente o alvo. Em lugar de resolver, complica-se ainda mais a situação. Há uma enorme diferença entre a cumplicidade, companheira do amor, com a culpabilidade ao outro, que é a forma mais cômoda e injusta , ainda que inconsciente, de se perpetrar injustiças.

(Continuaremos com o tema em outras oportunidades, se houver demonstração de interesse pelo tema em tela).
            

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