EM ATENÇÃO A UMA ALMA ATRIBULADA


Recebi, na caixa postal de meu correio eletrônico, a mensagem (particular)  de uma alma atribulada, pelo que roguei o socorro dos Mestres para, pelo menos, tentar levar uma resposta passível de minorar essa aflição aberta, com palavras a sangrar de dor no mais profundo desse ser,  que pessoalmente não conheço. Por ética e usual respeito humano que dispenso a todo e qualquer pessoa - seja  de que classe for - , não entrarei em pormenores sobre a vida individual ou familiar dessa leitora. Aliás, muito do que também eu próprio lhe disser, em atenção ao seu desesperado apelo, aqui não estará transcrito, porque o respeito humano é algo para mim tão elementar, que o pratico automaticamente em minha vida pessoal e pública, da forma mais natural possível.

Posso, contudo, dizer - sem risco de  qualquer inconfidência - que essa minha inusitada correspondente, na verdade, se limitou a expor o seu problema, na maior parte do texto, de forma genérica. Isto é, o que ela diz, infelizmente, deve ser o que milhões de pessoas pensam e sentem em sua forma existencial neste plano terreno.  O que ela revelou, sem esconder sua angústia e desencanto pela vida, é o que ocorre, mais ou menos, com todos os demais indivíduos. Daí a minha iniciativa em abrir a deixa para que ela fale sem rebuscos tudo o que sente e julga sobre o que afirma entender.

Limito-me a transcreve este trecho, em que ela, com maestria, tão bem expressou o seu drama, que, reitero,  não é só dela , mas universal, se visto por essa ótica.

"...dia destes, ou melhor, em recente noite, por força de laços de amizade e até contraparentesco, obriguei-me a acompanhar, junto com algumas poucas outras pessoas, uma mulher em seu trabalho de morte. Sim, ela forçava por deixar o casulo carnal, ainda que as forças cegas do instinto vital tentassem reter esse sentimento tanático de arrojar-se ao fim, presumivelmente definitivo. Ou permanente, pelo menos para o corpo, porque essa é a evidência, sem custo de qualquer análise mais profunda, de que fim é fim, e fim de papo e de vida. 

 À altura desta minha idade, nem de tantos nem de tão poucos anos, acabei por sentir um pânico a me implodir questionamentos que me brotavam da mais absoluta escuridão da  minha alma, se é que existe.  Aquela mulher, já desgastada  pelo atrito dos dias e noites que a vida provoca, e faz envelhecer,  lá estava a jazer moribunda num leito de hospital. Rodeada,  sim, de número suficiente de pessoas. Mas eu pergunto ao senhor e ao seu grupo: aquela mulher foi destaque, foi linda, foi noiva, foi mãe...levou filhos à escola e os formou em universidade. Qual a razão de tanto esforço, ou onde está esse troféu por tantos feitos? Qual o sentido de tudo isso, "seu" Generoso? E se fosse só essa criatura, - e ressalto que não se trata de uma pessoa que levou uma vida infeliz - que pagasse ao fim ,esse extorsivo  preço,  de dor e tormento o custo da passagem que fez pela vida, que eu penso, sem ela  ter pedido a ninguém.

Se fosse só ela, ainda vá lá. Mas todas as criaturas, se não morrem cedo, não têm outra alternativa senão essa, de ir ensaiando na interpretação implacável da velhice, o encontro com essa fatalidade.... Posso parecer pessimista, caros srs. Geraldo e Vicente. Mas será que não sou realista?

...eu até me iludo com muitas coisas deste mundo. Preciso fazer parte deste jogo enganoso e me conformar a ser enganada, achando que a vida é um durante, mas que na verdade não é senão um castigo sem remédio de médicos, de pastores ou de filósofos, pois a vida é séria demais. De nada eu sei que valerão estes meus desabafos, senão como catarse efêmera para a dor sem recursos de ter nascido humana... Não faço esta epístola como um desafio ao senhor nem  ao nobre terapeuta Vicente, Não quero ser uma fariseia a tentar e testar os seus princípios. Quero apenas que me ajudem a entender o porquê deste nosso estar aqui (na terra e no ar) que vocês também estão.

Pois bem, aos internautas que acompanham nosso blog, certamente podem avaliar como peitamos desafios inesperados, vindos, é claro, na melhor das intenções, mas que não podemos deixar sem uma resposta. Tanto melhor que  possa nortear essa criatura, que em nenhum momento revelou qualquer disposição inamistosa para conosco, mas que, até nos sentimos folgar pelo fato de tal mulher nos arrojar a um desafio desse tamanho.

A fim de não me estender demasiado nesta postagem e, tendo em vista o tamanho do desafio a que estamos inopinadamente sujeitos  - Vicente e eu, nos reuniremos e aqui traremos as nossas palavras, pelo que nos vamos valer da inspiração, a sós e em nosso grupo, para podermos, tanto quanto possível, sem faltar com a verdade, deixar patente a essa senhora, e a quem nos der a honra da leitura, que nem tudo está perdido. Aliás, o sábio Laplace  disse, com muita propriedade:" no Universo nada se cria nada se perde, tudo se transforma." Até breve e que sejamos iluminados para poder clarear com nossa pequena luz os caminhos daqueles que intentamos ajudar.

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