EM CONSIDERAÇÃO AO TEMA "ALMA ATRIBULADA"

Cumpre deixar bem claro alguns pontos, ao trazer à lume trechos desta carta, com plena autorização da signatária, de que, em nenhum momento, me coloco na condição de resolver questões do tipo apresentado por ela. Por outro lado, também não por em desapreço o tempo que ela empreendeu em seu "desabafo", que, no mínimo, lhe serviu de catarse, já que a literatura em si uma forma de liberação do que vai no consciente e no inconsciente das pessoas.

Ademais, ela enfocou em sua carta vários aspectos que ela vê para considerar a vida um desafio muito difícil. Vicente Campos pautou sua resposta a partir, como se vê, do fato dessa senhora descrever o desgosto de ver uma anciã em seu "trabalho de morte" (palavras dela). Dentro do limite de espaço aqui disposto, Vicente deu a resposta mais do que competente a um especialista do estudo das questões espirituais. obviamente onde a morte é um fator que não pode ser ignorado no drama humano da própria vida.

De minha parte, achei que a missivista também desanca a velhice como se esta fosse um castigo inevitável para quem escapa da morte e vive alguns anos a mais do que aqueles que partem na flor da idade. É compreensível essa abordagem, que essa pessoa expõe sem qualquer eufemismo. Mas eu penaria, embora isto demande mais letras para expor o que penso, o seguinte: quando detona em uma pessoa um chamado ímpeto de ver o lado negativo da vida, tudo se enevoa e se mistura com grande força. Não sou neurocientista, mas acho que o pessimismo (às vezes, felizmente, momentâneo) desencadeia um contágio evidente entre os neurônios (nossas células mais nobres) e tudo conspira para acharmos cada vez pior o que nos parece ruim.

Parto da posição objetiva da ciência, porque essa pessoa, sutilmente, diz até não acreditar que exista a alma. Como se não houvesse uma diferença mais do que evidente entre um corpo com vida e outro inanimado. Mas deixemos isso pra lá e sejamos práticos, já que o mundo gosta muito de praticidade e de fatos  demonstráveis.

Só tenho a dizer que a velhice não é uma maldição (oh, que palavra pesada), ou para sermos mais claros, não é um castigo. Eu tenho visto muito mais sorriso nos lábios dos velhos do que nos moços. Digo isto porque sonho com uma humanidade mais feliz no meu País e no mundo inteiro. Curiosamente, as pessoas mais idosas, em suas condições normais, não estão em sala de espera de morte, de forma alguma. A vida é mágica desde que nascemos até o nosso último supiro.

Em visita a uma instituição de assistência a idosos, em Santa Cruz do Rio Pardo, onde levei alguns amigos que cantam muito bem, embora sejam artistas amadores, pude sentir o que a arte pode fazer pela vida das pessoas.

 Porque viver sem arte e não conhecer a arte de viver. Conheço pessoalmente, e considero um bom amigo e conselheiro, o Sr José Perez, que mundialmente é conhecido como TINOCO. É um exempllo de estar bem com a vida, do alto de seus mais de 90 anos. Aplaudido, respeitado, cortejado por pessoas de todas as idades, inclusas as crianças e jovens, como tenho testemunhado das vezes que o acomapanhei em seus shows por vários lugares.

Minha querida missivista, posso concluir que a dor que você sente é desviar-se do seu Agora, do seu Momento, porque esse é o único tempo que você tem, que eu tenho e todas as demais pessoas deste planeta pode contar que têm. Estou aberto a futuras comunicações de sua parte. Não subestimo o seu estado de espírito em desespero, como deixou bem claro, mas entendo que a primeira pessoa que pode ajudá-la é você mesma, buscando enxergar o mundo não apenas como a noite que se repete a cada lado do planeta, mas saber - porque é verdade - que o sol quando descansa no horizonte imediatamente se põe a postos para abrir um novo dia no outro lado da Terra.