*Geraldo Generoso
Por que o poeta deixou os versos por fazer, e o cantor, sua música por cantar? Por que o sábio enclausurou-se e todos se anonimizaram, diluindo o toque da individualidade?
Simplesmente porque o poeta sentiu não ser poeta, e o cantor se deu conta de que seu canto não encantava. O rico não se sentiu abastado nem o pobre se julgou em condição de carência.
Sim! A poesia dos pássaros, transfeita em canto, envergonhou ao poeta e ao cantor. O vento a farfalhar nas folhas executou sinfonias inimitáveis no teclado estrelado da noite.
O rico sentiu a inutilidade do amealhar contínuo, ao constatar que a Natureza nada guarda para si mesma. O opulento contemplou o rio caudaloso a serpear pelas margens a fertilizar os campos, a emprestar ao céu os vapores de sua água para a chuva sobre bons e maus. Ainda constatou o homem rico a árvore frondosa pender-se de frutos e a esparzir sombra e aromas, e a doar de seu tronco a madeira para um berço ou um esquife, tudo de forma natural e anônima.
O pobre interrompeu a colheita pressurosa e viu que o Universo era rico e ele próprio era o universo.
O sábio, não por desaponto nem por despeito, recolheu-se ao íntimo e descobriu a verdadeira sabedoria. Pôs de lado os livros e contemplou as abelhas construtoras ocupadas numa colmeia; as formigas no afã de fundar e manter um formigueiro. A semente muda a erguer-se do solo pelos braços da luz do sol.
O sábio pensou e até se sentiu mais útil. Em vez de procurar entender os átomos pelos olhos da ciência, passou a conhecê-los pelas lentes do amor. Declamou os versos do poeta e cantou as canções do cantor no palácio do rico e na choupana do pobre. Assim o eterno dia continuou....
As nuvens devolveram ao rio a água, em forma de chuva que este lhe confiara em forma gasosa. As plantas perfiladas às suas margens também sorriram em verde agradecido. Assim seguiu o rio por entre árvores frutíferas e figueiras bravas, de forma impessoal, na certeza da continuidade natural da vida. Ciente de que “no Universo de Deus nenhum gesto fica sem paga.”, como disse Emerson.
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