O VAI E VEM DA NATUREZA


 Vista do Entardecer no Lago Municipal de Ipaussu - foto mundialmente conhecida tirada pelas lentes do artesão da luz: Vitório Paiva Maistro - diretor do Jornal O COMETA




*Geraldo Generoso


Certo dia o poeta pendurou a lira e o cantor silenciou a voz; o sábio emudeceu a pena; o rico desprezou o dinheiro – que lhe negou a felicidade –  e o pobre não se importou com a própria escassez, sempre tão preocupante.

            Por que o poeta deixou os versos por fazer, e o cantor, sua música por cantar? Por que o sábio enclausurou-se e todos se anonimizaram, diluindo o toque da individualidade?

            Simplesmente porque o poeta sentiu não ser poeta, e o cantor se deu conta de que seu canto não encantava. O rico não se sentiu abastado nem o pobre se julgou em condição de carência.

            Sim! A poesia dos pássaros, transfeita em canto, envergonhou ao poeta e ao cantor. O vento a farfalhar nas folhas executou sinfonias inimitáveis no teclado estrelado da noite.

            O rico sentiu a inutilidade do amealhar contínuo, ao constatar que a Natureza nada guarda para si mesma. O opulento contemplou o rio caudaloso a serpear pelas margens a fertilizar os campos, a emprestar ao céu os vapores de sua água para a chuva sobre bons e maus. Ainda constatou o homem rico a árvore frondosa pender-se de frutos e a esparzir sombra e aromas, e a doar de seu tronco a madeira para um berço ou um esquife, tudo de forma natural e anônima.

            O pobre interrompeu a colheita pressurosa e viu que o Universo era rico e ele próprio era o universo.

            O sábio, não por desaponto nem por despeito, recolheu-se ao íntimo e descobriu a verdadeira sabedoria. Pôs de lado os livros e contemplou as abelhas construtoras ocupadas  numa colmeia; as formigas no afã de fundar e manter um formigueiro. A semente muda a erguer-se do solo pelos braços da luz do sol.

            O sábio pensou e até se sentiu mais útil. Em vez de procurar entender os átomos pelos olhos da ciência, passou a conhecê-los pelas lentes do amor. Declamou  os versos do poeta e cantou as canções do cantor no palácio do rico e na choupana do pobre. Assim o eterno dia continuou....

            As nuvens devolveram ao rio a água, em forma de chuva que este lhe confiara em forma gasosa. As plantas perfiladas às suas margens também sorriram em verde agradecido. Assim seguiu o rio por entre árvores frutíferas e figueiras bravas, de forma impessoal, na certeza da continuidade natural da vida. Ciente de que “no Universo de Deus nenhum gesto fica sem paga.”, como disse Emerson.




*escritor e jornalista –

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