O MISTÉRIO DA VIDA

A vida humana, até onde podemos entender, revela-se a mais dolorosa entre os seres viventes. Se estudamos a História da Civilização, as páginas se encharcam de sangue diante de nossos olhos e, ah, se o simples papel articulasse seus gemidos, ensurdeceríamos ante tantas dores superlativas e irremediáveis.

De vez em quando nos deparamos com relatos de pestes que vestem de luto coletivo as cidades e os campos. Guerras se sucedem incessantemente, a fome grassa entre populações inteiras, num suplício que pouco aquém fica do inferno que o poeta Dante Alighiere retratou com tanta crueza.

Mesmo na vida individual, o ser humano acorda para este mundo ao som do próprio choro. Nesse intervalo desse primeiro choro e do último, na dor que é muito comum antes de morrer, não faltam lágrimas que rolam, algumas pelos olhos e outras tantas pelo coração.

O mundo, enquanto tal, divide-se em dois grupos: os infelizes e os aparentemente felizes. Cada indivíduo é atrelado a obrigações, compromissos, opressões de toda ordem, sem contar os medos imaginários que se mostram maiories do que a própria vida.

E os sábios? ah, os sábios! Em pequeno número para acender um facho de luz em meio à escuridão de que a vida é farta. Eles próprios, mesmo dotados de conhecimentos e habilidades incomuns, não raro sofrem o guante da incompreensão e do vexame, num planeta turbulento. Instável, tanto por causas naturais quanto por causas humanas e artificiais.

De qualquer modo, ainda assim a raça humana segue avante. Parece entender, como bem preconizou o imortal poeta indiano, Rabindranath Tagore, que o universo é dinâmico, que tudo está a caminhar para um porto e são comuns as tempestades e borrascas pelo mar que cada um de nós ensaiamos esta misteriosa travessia.

Do que sabemos deste mundo - e quanto mais sabemos mais nos assustamos - prevalece a tragédia, em graus variáveis nas diferentes latitudes terrestres. No entanto, o ser humano é de uma estirpe indomável. Luta e reluta, apanha e bate e no fim acaba por vencer tantos desafios que saltam à sua frente.

O mais curioso em toda esta questão é que a humanidade nunca desanima. Às vezes erra os passos, mas sempre acaba por encontrar caminhos novos. Mesmo que sejam caminhos mais ásperos, ainda assim os palmilha com ousadia indomável.

Lemos no Antigo Testamento a saga dos israelitas em busca da Terra Prometida. Quarenta anos de marchas e contra-marchas, mais por conta das idiossincrasias e do espírito volúvel dos caminhantes, do que propriamente por falha de Moisés, o maior condutor de homens da antiguidade.

Também cada um de nós, nessa travessia pelo deserto, em busca da felicidade real e única, que representa a nossa  confirmação do dístico de Jesus Cristo "vós sois deuses", igualmente tergiversamos nossos passos, derivamos nossas vistas ao chamado mundo de Mamon e retardamos o nosso encontro com a verdadeira ventura, simbolizada na linda parábola do filho pródigo.

Voltando à questão da humanidade, havemos de convir que, no geral, inevitavelmente cada pessoa sente, de vez em quando, a força daquele sopro vital que o Creador insuflou no ser humano e o fez uma alma vivente.

Mesmo levando em conta, como alguns mais minuciosos admitem, que seja essa uma alegoria ou um simbolismo, a verdade é que o homem (inclusa a mulher, obviamente) provam, por milênios de lutas sem tréguas contra os sofrimentos e as tribulações, não há como não admitir que trazem consigo - cada qual em sua medida - uma parte do Creador,  que o faz viver, mover-se e ter Nele o seu ser. E como qualquer parte do infinito é também infinita, o homem tem o direito de abraçar esse destino e essa condição.

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