Excelente texto de Brígida Gabriela (18 anos)
Entre uma caixa e outra
Segunda-feira, céu limpo e um sol para cada um. Antes das sete da manhã as pessoas já enchiam as ruas e andavam de pressa, como quem tinha que tirar o pai da forca ou algum ente querido de um prédio em chamas.
Enquanto aguardava o ônibus no ponto, ouvi – sem querer – a conversa de um senhor que estava aconselhando um jovem aparentemente desanimado dos estudos, mais precisamente da escola.
O senhor parecia já ter passado da meia idade há tempos, mas seu semblante era tão alegre que o revestia de um ar jovial. Parecia ser saudável de corpo, alma e coração. Não conheço aquele homem e não troquei uma palavra sequer com ele, mas minutos que ouvi da conversa dele com o jovem foram suficientes para mudar meu dia. Aliás, minha vida.
O jovem confessava estar desanimado com a escola, dizia que os professores deixavam muito a desejar e que isso estava fazendo com que ele perdesse o ânimo de levantar todos os dias às cinco horas da manhã e até mesmo de pegar nos livros ao longo do dia para estudar e se preparar para o vestibular.
E o senhor, com toda a bagagem e sabedoria adquirida na escola da vida, deu ao menino a instrução mais bela que alguém poderia oferecer a um jovem. Suas palavras foram:
— Quando nascemos somos colocados em uma caixinha de madeira chamada “berço” e quando morremos somos colocados em uma caixa de madeira chamada “caixão”, o que fazemos entre uma caixa e outra tem que ser tão grandioso e sublime a ponto desse presente que nos foi dado, que é o intervalo de tempo entre nascimento e morte, ter valido a pena.
Eu não sei se aquele rapaz entendeu o recado, mas eu entendi. Entendi que a vida foi o maior presente que nos foi dado e que, em forma de gratidão, temos que aproveitar essa dádiva ao máximo e da melhor forma possível.
A vida é bem mais que acordar às cinco da manhã, sair às pressas para tomar um ônibus, entrar pelo portão de uma escola, ir resmungando para a aula porque o professor não é simpatizante e nem eficaz e sair da aula pior do que entrou.
A vida não é nada disso. A vida não é o que se passa no exterior, mas no interior. Quando aquele menino parar de pensar “eu tenho que estudar, eu tenho que passar no vestibular, eu tenho que, eu tenho que, eu tenho que...” e enfim deixar de ver o estudo como uma obrigação, mas como uma oportunidade, tudo lhe fará sentido. Desde o alarme do relógio às cinco até a hora de deitar.
As tarefas cotidianas que exercemos devem ser consideradas como sendo bem mais que obrigações, elas são oportunidades de mostrarmos ao mundo o que estamos fazendo de bom, profícuo e agradável com nosso intervalo entre uma caixa e outra. São oportunidades de colocarmos nossa vocação, amor e dedicação em prática.
A vida está nas coisas pequenas que com um pouquinho de amor e um olhar mais aguçado tornam-se grandiosas e essenciais. A vida é aquele “bom dia” sorridente que oferecemos e recebemos do vizinho, aquele beijo da nossa mãe, o abraço do nosso pai e o sorriso do nosso irmão. A vida também é aquele zero na prova de geometria, aquele “você pode melhorar” do professor e por vezes o desdém dos colegas.
A vida é feita de altos e baixos até nas batidas do coração, mas não podemos desanimar na primeira banda que recebemos dela, a vida é para quem topa qualquer parada, não para quem pára em qualquer topada.
O verdadeiro sentido da vida está naquilo que a correria do dia a dia não nos permite notar. Eu só queria poder passar essa mensagem para cada pessoa que vejo correndo às seis e meia da manhã com pastas de couro e paletó de baixo do sol como se fosse tirar o pai da forca.
Todavia, elas estão mais preocupadas com um tal cartão que elas têm que bater às sete em ponto em uma empresa que lhes garante uns três salários mínimos no início do mês.
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